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Você transmite vida ou morte?


"O que você está transmitindo para os outros: vida ou morte?" Assim iniciou a homilia do frei que presidiu a missa na paróquia que frequento. Ao escutar esta fala, logo me veio Freud à mente, quando falava da pulsão de vida e pulsão de morte. Duas pulsões tão importantes em nossas vidas. Escutei a homilia fazendo associação com a visão psicanalítica de Freud e fazendo uma analogia com a minha vida e com tudo o que escuto e vejo no meu dia-a-dia.

Esta colocação parece um tanto forte, chocante, mas é importante pensarmos sobre isto, pois ajuda-nos a avaliar a maneira como estamos escolhendo levar a nossa vida.

A pulsão nada mais é que um processo dinâmico em que existe uma força ou carga energética, como preferirem chamar, que impulsiona o organismo para um objetivo. Freud referia que a pulsão tem sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão) e o seu objetivo é perfazer este estado de tensão que rege a fonte pulsional. A pulsão atinge seu objetivo através do objeto.

A pulsão de vida tem como característica o caráter construtivo, visto que o seu objetivo fundamental é a ligação que visa instituir unidades cada vez maiores e conservá-las. Este princípio está associado a nova concepção de Freud sobre a sexualidade.

As pulsões de vida não têm o caráter regressivo característico das pulsões, mas sim um caráter construtivo, uma vez que um princípio fundamental de tal pulsão é o princípio de ligação, que consiste em instituir unidades cada vez maiores e conservá-las. A pulsão de morte representa a tendência fundamental de todo o ser vivo a retornar a um estado anorgânico. Esta pulsão foi elaborada por Freud, ao observar os fenômenos de repetição, que o fez pensar no caráter regressivo da pulsão, pois o fenômeno de repetição, não faz apenas o aparelho psíquico descarregar a libido, mas percebeu que a libido estava relacionada a situações desagradáveis.

Quando se pensa em pulsão, precisamos pensar em dualidade, porque elas fornecem as forças que se enfrentam no conflito psíquico. Por isto, dizemos que o ser humano é um ser dual: ora bom, ora mau; ora alegre, ora triste...

Esta breve explicação sobre as pulsões foi para que possam entender o que falei no primeiro parágrafo, na analogia que fazia entre a homilia do frei e as colocações de Freud, porque percebe-se o quão o ser humano tem dado ênfase a pulsão de morte. Evidencia-se isto quando olhamos ao nosso redor e vemos as pessoas se destruindo nas drogas lícitas ou ilícitas; quando brigam, se agridem por picuinhas; quando encontram meios para sofrerem (nas relações afetivas, no trabalho...); quando sentem-se culpadas e responsáveis por tudo; quando não são empáticas, não têm compaixão; quando a sede do poder grita mais alto e faz com que rompam paradigmas, para se locupletar e daí em diante.

Outra forma de dar vazão a pulsão de morte é se queixar, se lamentar, perder a esperança, desacreditar. Infelizmente, não são poucas as pessoas que vivem desta forma ou traçando comparativos, esquecendo que as pessoas são unas. Isto só leva ao sofrimento e às doenças psiquiátricas.

Priorizar a pulsão de vida é sinal de saúde mental, é saber que existem aspectos negativos; é saber que a vida nos prega peças, mas que temos condições de administrá-las; é poder dar um sorriso para alguém que nos olha e poder reconhecer que este simples gesto pode fazer a diferença na vida daquela pessoa; é poder estender a mão para aquele que nos pede uma ajuda; é ter sede de viver; é poder dizer que ama sem medo de não ter um retorno; é agradecer a cada coisa que a vida nos dá, são tantas coisas que podem nos convidam a propagar a pulsão de vida, que fica difícil de nomear. Porém, percebe-se, em nossos consultórios, que as pessoas dão maior vazão a pulsão de morte e por isto sofrem tanto.

Deixo para vocês a mesma pergunta que o frei fez ao iniciar a sua homilia; o que você está transmitindo para as pessoas: alegria (pulsão de vida) ou tristeza (pulsão de morte)? A partir da resposta que obtiver, faça a escolha do que você quer para sua vida.


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