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A febre do momento


A febre do momento é a caça aos Pokémons, algo que se pararmos para analisar, veremos que é bem significativo. Trata-se dos monstrinhos virtuais que aparecem na tela em cima das imagens captadas pela câmera no celular, tendo como objetivo encontrar e capturar o maior número possível de monstrinhos.

É impossível não pensar e questionar a razão que leva crianças, adolescentes e adultos a andarem por aí caçando Pokémons. Será que realmente trata-se só de um divertimento? Pensando em nível de consciente a resposta é sim, mas como não funcionamos pelo consciente e sim pelo inconsciente, ao menos é o que Freud dizia, veremos que as pessoas correm para matar os monstrinhos virtuais, provavelmente, por não conseguirem matar os reais que habitam dentro delas.

Cada vez mais o humano tenta resolver seus conflitos por meio do virtual e com isto, afunda-se nos seus conflitos internos, que acabam refletindo no seu externo. Evidencia-se claramente isto, no comportamento das pessoas; na forma como lidam nas situações conflituosas; na falta de olhar para o outro; no seu egocentrismo; na dificuldade de nomear sentimentos e de falar de si. Vê-se muito que, para algumas pessoas, todos os problemas estão no mundo externo. Mas e a contribuição delas, para onde foi?

A cabeça e o comportamento do ser humano estão cada vez mais difíceis de entender. Digo isto como estudiosa do comportamento. Em alguns momentos, confesso que fico chocada e até com uma certa dificuldade de acreditar que um ser racional possa agir com tanta irracionalidade e de forma tão instintiva como age. Não me reporto apenas às cenas de violência que tomamos conhecimento através da imprensa, mas no dia-a-dia, nas pequenas coisas, nas atitudes que vemos entre as pessoas, que muitas vezes são perversas.

Perdeu-se a capacidade de refletir, pensar e analisar nossas atitudes, de compreender o que está por trás delas. Esta dificuldade que se percebe nas pessoas, se dá em função da concretude em que elas vivem, podendo isto ser associado ao mundo virtual, ao faz de conta, onde tudo é percebido como uma verdade.

A falta de capacidade que vemos nas pessoas de abstraírem o que está dito nas entrelinhas é algo que não só nos preocupa como psicoterapeutas e que também prejudica, muitas vezes, o nosso trabalho. Tentamos mostrar ao indivíduo o que existe atrás da sua fala, do seu comportamento, os sentimentos, a agressividade que muitas vezes expressa, mas ele não consegue enxergar e projeta para o externo algo que é totalmente dele.

Caçar Pokémons e travar batalhas não pode ser compreendido apenas como a febre do momento ou uma diversão. Também é preciso pensar no motivo pelo qual as pessoas estão tão mobilizadas com esta brincadeira e gastando tanta energia com ela. Pensar o que está sendo suscitado nestas pessoas, sejam crianças, adolescentes ou adultos.

Necessitamos urgentemente fazer as pessoas voltarem a pensar, a questionar, a assumirem a responsabilidade de seus atos, a verem que tudo parte delas e não do exterior, como pensam. Propiciar a elas a percepção de que o mundo virtual nada mais é do que um mundo do faz de conta; nele tudo parece lindo e maravilhoso, mas que também pode servir para acumular sofrimentos, tristezas e mágoas. Primeiro alimentamos nossos monstrinhos interiores; depois, quando não mais os reconhecemos dentro de nós, tentamos destruí-los através de um aplicativo.

Avalie melhor suas atitudes, seu comportamento e seja mais feliz.

Paz do eu!

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