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Admiração ou inveja?


Interessante observar que há algum tempo as pessoas vêm adjetivando a inveja como boa ou ruim, quando não de inveja branca, como se isso realmente existisse. Demonstram o seu desconhecimento e a sua dificuldade de diferenciar admiração de inveja. O que chama atenção é que isso começou a acontecer a partir do momento em que as pessoas começaram a estabelecer competições no mercado de trabalho, passaram a querer pertencer a grupos que não fazem parte da sua realidade, que começaram a ostentar para se sentirem alguém, valorizando o ter e não o ser.

No entendimento psicanalítico, a inveja é sempre algo destrutivo, a pessoa não consegue lidar com o fato de não ter algo que o outro tem e que gostaria muito de ter ou de ser. Existem pessoas que têm dificuldade de lidar com o diferente e de aceitar que o outro se destaque mais do que ele. Etimologicamente inveja significa “não ver” e por isso o desejo de destruir para que não veja o objeto invejado. Segundo Figueiredo e Ferreira (2011), a inveja é a “ejaculação dos olhos”. A etimologia da palavra inveja é constituída por étomos latinos in (dentro de) mais videre (olhar), mostrando claramente o quanto esse sentimento aflui a um olhar mau que penetra no outro. A vontade de destruir se dá a fim de eliminar a comparação existente.

Inveja é um sentimento inato do humano, assim como, a raiva, o ciúmes que por se considerar algo feio, acaba-se negando a sua existência. Já a admiração, cuja sua origem vem do latim ad, junto para, somado a mirabilis que significa o que é digno de admiração, de mirus, assombro, surpreendente.

Admirar alguém, espelhar-se em alguém para seguir sua vida tem uma conotação positiva. Muitas vezes, a palavra inveja pode ser usada indevidamente, pelo fato de as pessoas desconhecerem que inveja sempre teve e continuará tendo uma conotação negativa, mesmo que queiram lhe dar um adjetivo, a fim de minimizar o peso que a palavra carrega consigo.

Admiração pode ser compreendida como uma força irresistível de ter uma consideração especial por algo ou alguém que por vezes nem conhecemos. A admiração nos conduz à perplexidade, ao reconhecimento, a valorização, a identificação na pessoa admirada de um valor que considera-se importante. Isso desperta o desejo de tê-la como modelo de identificação, servindo de estimulo para fazer algo, para melhorar e até mesmo para dar um novo rumo à vida.

Saber reconhecer os sentimentos e nomeá-los corretamente, faz parte do autoconhecimento, da inteligência emocional, ajudando a evitar qualquer sofrimento desnecessário, como por exemplo, os causados pela inveja. Quem mais sofre nos casos de inveja é a pessoa que inveja, porque o invejado, na maioria das vezes, nem sabe que está sendo alvo de inveja.

Admirar algo ou alguém desperta bons sentimentos na pessoa que admira, porque aguça os seus sentidos. Entretanto, existem pessoas que conseguem admirar a si próprio, porque não consegue estender o seu olhar ao outro, o que é lamentável.

 

Referência: FIGUEIREDO, Maria Flávia; FERREIRA, Luis Antônio. Olhos de Caim: a inveja sob as lentes da linguística e da psicanálise. Sentidos em movimento: identidade e argumentação. Coleção Mestrado em Linguística. 2011- publicações.unifran.br

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