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Vivemos um momento de desrealização e despersonalização


Todos os acontecimentos dos últimos tempos em nosso país nos dão a sensação de estarmos vivendo um intenso processo de desrealização e despersonalização. Tudo aquilo que foi construído e passado para nós, parece não fazer mais sentido. Ética, moral e valores parecem não existir mais.

As pessoas estão “por qualquer coisa”. Vê-se a ganância se sobrepor e dane-se a ética. Afinal, repete-se o comportamento dos nossos governantes. Se eles podem, por que nós, reles mortais, não poderemos?

Parece que engrenamos um processo de desrealizar, de desacreditar, de achar que nada vale a pena, o que vai nos despersonalizando dia após dia.Entende-se a despersonalização como um processo psíquico no qual surge a impressão de que se é estranho a si mesmo, de que o sentir e o agir estão desprovidos de uma participação ativa, ocorrendo de um modo quase automático. Observa-se na fala das pessoas que elas estão, muitas vezes, perdidas, que agem de forma mecânica e automática, que seguem suas vidas simplesmente porque é necessário. Não acalentam mais a esperança de um futuro melhor, o que gera um sofrimento psíquico intenso, visto que os sonhos acabaram. As pessoas trabalham para pagar as contas, suprir as necessidades básicas e ficam limitadas. O lazer, que é importantíssimo para saúde mental, acaba por ficar privado.

Enquanto somos apresentados à hipocrisia, à psicopatia e à falta de caráter dos nossos governantes, a violência aumenta e a saúde e o ensino ficam esquecidos. Isto para não dizer, que ficam em piores condições, adoecendo cada vez mais as pessoas.O verdadeiro sentido da democracia que dá ao cidadão o direito de expor seus pensamentos, de discordar, ficou esquecido, pois vê-se nas redes sociais as pessoas se digladiando por terem opiniões diferentes. O direito de ir e vir já ficou num passado longínquo, vê-se isto na invasão dos alunos nas escolas. Eles têm o direito de apoiar os professores, de questionar, de reclamar, porém, cabe lembrar que aqueles que querem assistir aula e os professores que querem dar aula, possuem os mesmos direitos.

Falar ou pensar em democracia, cuja a etiologia desta palavra vem do grego, demokratía, que é composta por demos,que significa povo, e kratos, que significa poder, parece, neste momento, ser algo um tanto irônico. A democracia é um sistema político em que o poder é exercido pelo povo, por meio de um sufrágio universal. Trata-se de um regime de governo em que todas as importantes decisões políticas estão com o povo, que elegem seus representantes por meio do voto. Entretanto, em termos de Brasil, que é o pais do “jeitinho”, percebe-se que este é um processo muito complicado, porque a sensação que temos é que a honestidade, a justiça, o respeito, etc., acabaram e que a única coisa que restou foi a sede dos nossos governantes pelo poder.

A agressividade, o medo exacerbado, a insegurança, a raiva, a tristeza, a revolta, o desencanto, a angústia, entre tantos outros sintomas que estão sendo suscitados nas pessoas, podem contribuir para o aumento das estatísticas de ansiedade e depressão.

Clamar por justiça, sabe-se que é um direito de todos nós. Porém, sabe-se também que este clamor será em vão, pois ninguém está disposto a escutar o que o outro tem a falar e muito menos, os nossos dirigentes que estão preocupados em um apontar o erro do outro, como se houvesse inocentes.

Espera-se que num futuro próximo, esse sentimento de desrealização e despersonalização, possa ser trocado pelos sentimentos de segurança, esperança, renovação, confiança, etc. Porém, no momento, isto parece um tanto utópico, o importante é que se possa reconhecer estes sentimentos e não se deixar envolver por eles, buscando alternativas para dribla-los e ter discernimento suficiente para seguir sua vida, da melhor maneira possível. Caso contrário, corre o risco de levar consigo um sofrimento que é consequência de todo um momento político que tem sido intenso, desgastante, frustrante e desencantador.

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