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O homem como ser psicológico


Para o próximo Papo Cabeça, a coordenadora do encontro, Anissis Moura Ramos, selecionou o texto a seguir. O usará como subsídio A , Escrito em 1998 por Sá Lopes, o texto será o ponto de partida para as reflexões do grupo de discussão.

O Homem – homem como ser individual com personalidade própria e/ou Homem como conjunto de todas as sociedades e civilizações desde os tempos mais primitivos até aos nossos dias – nasce, cresce, vive e morre como todos os outros seres vivos animais. Como animal que também é, pertencente à classe dos mamíferos, a espécie humana diferenciou-se dos outros animais devido a um maior crescimento natural do seu cérebro e a um desenvolvimento da fala que permitiu a criação de ideias, tornando-se o ser por excelência do planeta Terra. A aplicação de ideias na prática fez com que o homem criasse artefatos que deram azo ao surgimento de novas ideias, que por sua vez serviram para a criação de novas técnicas e assim sucessivamente até aos nossos dias, onde somos confrontados com elevada tecnologia desde a física quântica e nuclear, passando pela informática e eletrônica até microbiologia e genética e... sabe-se lá para onde caminharemos!... A par desta evolução tecnológica, o homem presenciou outras evoluções na sua história: evolução política, econômica, cultural e artística, religiosa e filosófica, e psicológica. Com grandes crises, muitos altos e baixos, mas sempre com tendência crescente... E até onde!? Terá o homem limites?... Certamente que sim!... Não terá o homem atingido os limites nesta perplexa evolução, sempre que alguém morre por causa não natural? Nas diferentes evoluções acima citadas não teremos já atingido os limites em algumas delas? Tecnologicamente certamente que não – todos os dias se fazem novas descobertas. Economicamente não há limites. O valor do dinheiro é psicológico. Pode-se evoluir sempre aumentando os valores ou dando novos nomes ao dinheiro. Cultural e artisticamente não haverá limites porque são os limites da imaginação, e basta mudar uma frase num texto para um livro ser diferente, apesar da mesma ideia. Note-se que existe “Madame Butterfly” ópera, música, teatro, filme, e livro – e pode-se perguntar até que ponto é criação ou repetição/estar nos limites. Politicamente já se testaram todos os sistemas, e a democracia republicana, que parece ser o melhor neste momento, não o foi já na antiga Grécia? Religiosa e filosoficamente já todas as fórmulas e teorias foram testadas, e não passaram disso. É que neste campo, há duas saídas, ouse vive feliz na ignorância, ou por mais que se procure, por mais que se estude, o que se vai encontrar é o nada, o absurdo, ou a loucura. O homem é física e psicologicamente limitado. Não se pode ultrapassar a ele próprio. Reparemos que após milhares de anos de evolução, o homem continua a ter as mesmas necessidades básicas para sobreviver, como respirar, alimentar-se, etc., como tinha antes de ter descoberto o silex. Psicologicamente o homem é como um computador. Nasce com um corpo físico e com uma memória limpa. Aos poucos vão-se introduzindo dados e programas na memória – dados: pai, mãe, rua, castigo, casa/ programas:se sair para a rua pai castiga. Educação familiar, catequese, escola, amigos, rua, televisão, cursos completos, empregos, casamentos, filhos, doenças acidentes, reforma... e a memória começa-se a perder por atingir a validade. Não atingiu os limites. Mas, se durante a vida acontecerem grandes desgostos emocionais, de amor ou perdas de entes queridos, grandes contratempos e desgraças, não se consegue o curso ou emprego que se deseja, e continua-se a tentar e começa-se a perguntar porquê? Introduzem-se dados e mais dados na memória para tentar saber porquê. E nunca surge a resposta e continua-se a tentar... até que, a memória se acaba. Para entrarem umas coisas apagam-se outras, embaralha-se tudo, não se sabe o que se sabe e o que não se sabe e atinge-se a loucura. Porque o cérebro humano onde é armazenada a memória consciente e inconsciente tem limites. Excetuando os acidentes cerebrais que afetam a memória, não raro se conhecem pessoas que ficaram esquizofrênicas ou com outras doenças mentais devido a estudos excessivos. E as crianças superdotadas, que futuro se lhes reserva?! A evolução humana só foi possível porque foram muitos cérebros a pensar ao longo de milênios. Cada um deu potencialmente uma minúscula contribuição. Imaginemos que necessitamos da fórmula BDH e cada cérebro só comporta três letras. O primeiro comporta ABC, o segundo comporta DEF e o terceiro GHI. Um quarto cérebro pode aprender dos outros três as letras BDH, sem os quais nunca lá chegaria. No entanto este quarto cérebro nunca saberá as outras letras. Quantas coisas não se terão já perdido no tempo? E, no entanto, sendo o alfabeto limitado, não teremos já atingido tudo em certos campos? Um homem só nunca poderá saber tudo, é impossível, por isso deve selecionar o que deseja saber, e deve tentar saber só o que lhe é mais importante, o que mais lhe interessa, mais lhe convém, mais lhe é agradavelmente bom e o que é mais humanamente tolerável e moralmente correto. Diz-se muitas vezes que a história se repete. Mas os homens não, os homens são sempre outros ainda que vivam a mesma história, e afinal o que importa é viver. Cada homem é uma vida. E a diversidade é a coisa mais bela. A diversidade de ideias, de culturas, impérios, raças, civilizações, filosofias, religiões, a diversidade de homens... de toda a história passada, da atualidade presente e do imprevisível futuro, porque, como já dizia o Filósofo Sydney Harrys “nenhuma forma de vida é por si só totalmente boa, a combinação é todo. A vida é a arte de misturar ingredientes em proporções toleráveis.” Seria bom se soubéssemos isto.


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