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Saudade sim, tristeza não


Data vivida por muitos como um dia triste, de sofrimento, de saudades dos seus ancestrais. Esta foi e talvez ainda seja, para muitos, um entendimento empírico sobre finados. Cada religião tem uma visão sobre esta data, posso falar apenas sobre o entendimento católico, devido a minha formação em teologia e por ser a minha religião.

Para nós católicos, esta data é compreendida como a oportunidade de rezarmos pelas aquelas pessoas queridas que viveram conosco e que hoje buscam a plenitude da vida diante de Deus.

Conta a história que os cristãos nos primeiros séculos tinham o hábito de visitar os túmulos dos mártires para rezar por eles e por todos aqueles que um dia fizeram parte da comunidade primitiva. A partir do século XII é que se passou a comemorar o dia dos fiéis defuntos em 2 de novembro, visto que no dia 1º era celebrado a solenidade de todos os santos.

Os sentimentos de sofrimento, tristeza que muitos vivem nesta data, provavelmente, estejam associados a dificuldade que temos de lidar com a morte. Negamos que a partir do momento que nascemos começamos a caminhar para finitude. A cada aniversário que comemoramos, não estamos festejando mais um ano de vida como pensamos e sim, menos um ano, visto que estamos nos aproximando da nossa finitude que poderá se dar a qualquer momento. Porém, ninguém gosta de pensar ou falar sobre isto, muitos até batem na madeira três vezes, como se este ritual fosse impedi-los de morrer. Outros não vão a cerimônias fúnebres, com medo de serem lembrados. Obviamente, que o verdadeiro motivo é outro,

A morte para nós cristãos católicos não pode ser compreendida como o fim e sim como o renascimento junto a Deus Pai. Voltamos para casa do Pai de onde viemos. Portanto, não cabe a tristeza, porque temos a certeza que somos convidados a não parar na morte.

Aquele que realmente crê, vê na morte a oportunidade de comemorar o mistério pascal, ou seja, na Páscoa – palavra que tem sua origem no hebraico Pessach e significa passagem, festa onde os judeus comemoram a passagem da escravatura do Egito para liberdade na Terra prometida – na religião católica, a Páscoa significa a morte e ressurreição de Cristo e, portanto, nos finados comemoramos o mistério pascal, porque morremos na carne, mas renascemos junto a Deus Pai. Isto só entende quem realmente tem fé e que vive esta esperança que brota do coração. Ter fé não significa aceitar tudo sem questionar, a fé nos convida a questionar, a pensar, a não aceitar tudo como uma verdade absoluta.

Por muitos anos, foi passado pela Igreja católica que ao morrermos iríamos para o purgatório para pagarmos os pecados que havíamos cometido na terra. Isto gerava um medo muito grande nas pessoas. Esta fala se dava devido a uma leitura e um entendimento fundamentalista dos textos bíblicos, em que ninguém questionava nada.

Hoje os teólogos nos mostram que o purgatório faz parte da doutrina escatológica da Igreja e que é o lugar que nos transforma na figura sem mancha, que nos permite viver a alegria de nos encontrarmos com Deus.

Quando conseguimos ter este entendimento e vivermos isto, não mais sofremos pela morte dos nossos ente queridos. Não faremos do dia dos finados um dia triste, mas sim, um dia de oração para as pessoas que amamos e que já estão na casa de Deus Pais. A oração é a maneira que, nós católicos, temos de nos mantermos unidos aos nossos ancestrais.

Portanto, não torne este dia, um dia de sofrimento, mas de alegria por ter a certeza que todas aquelas pessoas que fizeram parte da nossa vida, hoje encontram-se felizes por estarem junto a Deus e também por receberem as nossas orações.

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